segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Munícipes apontam as necessidades da Calheta

Alguns moradores da Ponta do Pargo gostariam de ver a sua freguesia com mais movimento. Apesar de estar em fase de construção a via expresso e de já ter sido anunciado o campo de golfe, os moradores dizem que até essas obras estarem concluídas a Ponta do Pargo continua a ser uma localidade distante das outras freguesias.
Vários moradores com quem falámos, alguns dos quais preferiram permanecer no anonimato, falam do “isolamento” mas também do desemprego que tem afectado esta freguesia, que fica no extremo oeste da Madeira.
Segundo nos disseram, esta falta de emprego deve-se ao abrandamento do ritmo de construção na Região, uma vez que muita da população activa desta freguesia trocou o cultivo dos campos pela “bem remunerada” construção civil. De acordo com os Censos de 2001, vivem na Ponta do Pargo 1.145 pessoas.

Esta é uma das oito freguesias que integram o concelho da Calheta. A Calheta é, em área, o maior concelho da Região Autónoma da Madeira e está dividida pelas seguintes freguesias: Ponta do Pargo, Arco da Calheta, Calheta, Estreito da Calheta, Fajã da Ovelha, Jardim do Mar, Paúl do Mar e Prazeres.
António Sousa Jardim, de 74 anos, vive na freguesia da Calheta, mais concretamente no sítio do Massapez.
Este septuagenário elogia o trabalho que o reeleito presidente da Câmara Municipal, Manuel Baeta, tem realizado.
«Tem feito muito», considera, destacando também que «deve ser respeitado» o esforço do presidente da Junta de Freguesia da Calheta, Manuel António Freitas.
Os elogios não apagam, contudo, o lamento.
«Não há gente para cultivar os terrenos. Está tudo perdido. Antigamente, não se via um pedacinho de terra perdida. Estes velhinhos, como eu agora que já nem mexo as pernas, não podem fazer nada», lamenta-se, resignado.
«A rapaziada nova está emigrando para a Inglaterra, embora esteja pior do que aqui, segundo o que eu oiço», diz.

Aumento das pensões

Para os que ficam, António Sousa Jardim sabe que o apoio social já é uma realidade - «há muita gente a cuidar» dos inválidos – mas deseja que haja um reforço das pensões.
«Eles devem ajudar o povo com mais pensões, porque as actuais são uma miséria», refere o septuagenário, deixando este recado às autoridades locais e regionais.
Entre o que considera prioritário no novo mandato dos órgãos autárquicos, António Sousa Jardim aponta também a necessidade de consertar as levadas e algumas veredas.
Já «as estradas estão boas», garante. O Centro de Saúde está «meio abatido», avalia.
Tal como na Ponta do Pargo, também na Calheta o desemprego é uma preocupação no dia-a-dia das pessoas.
«Isto com o fim das obras, foi um pouco a baixo. A evolução foi muita rápida. Foram construindo e hoje em dia está tudo em dívida com os bancos. Agora, os bancos pararam de emprestar dinheiro...», analisa.

Local seguro

Onde não há alterações é na questão da segurança. A Calheta continua sem «problemas de segurança», diz o septuagenário. «Se uma pessoa rouba uma abóbora aqui e uma folha de couve acolá isso são coisas naturais, nem são roubos», considera.
Quanto à forma dos eleitos solucionarem os problemas do povo, o septuagenário entende que os munícipes não podem «deixar tudo em cima da Câmara, porque cada um tem de fazer a sua parte», mas sugere ao edil que «ande por aí a ver a necessidade do povo».
Um aspecto que continua a impressionar este homem é como o concelho ficou vazio de pessoas.
«Está vendo o sítio todo deserto? A pequenada caminha para a escola e fica o sítio assim, deserto», lamenta.

Estudantes querem mas não sabem se ficam

Ana Miranda e Susana Gonçalves já não são assim tão pequenas. Ambas têm 17 anos e frequentam o 12.º, na Escola Secundária da Calheta.
Para já, uma das suas principais preocupações é a rede de transportes públicos, que é «fraca».
«Passam poucos autocarros», dizem estas alunas, que gostariam de ver mais carreiras a ligarem a Calheta à Ribeira Brava e ao Funchal.
Também os atractivos para os jovens são «escassos». «No Verão, há a praia», recordam.
À beira de entrarem numa nova fase das suas vidas, pois as duas pretendem concorrer à universidade no final deste ano lectivo, nenhuma sabe, contudo, se, no final dos estudos, vai ficar a trabalhar no concelho.
Ana Miranda quer ser psicóloga ou contabilista. Ainda não decidiu. Susana Gonçalves também está a vacilar mas entre Contabilidade e Gestão.
Nenhuma consegue, neste momento, dizer que ficará a trabalhar na Calheta.
«Viver na Calheta depende de muita coisa. Gostava de ficar aqui na Calheta mas tudo irá depender de haver, ou não, trabalho», afirma Ana Miranda, acrescentando que, habitualmente, «as pessoas da Calheta, após o curso superior, vão trabalhar para o Funchal. Acho que são raros os casos dos que ficam a trabalhar na Calheta».
Ana Miranda sublinha: «não é que não queira, é tão-só porque não há trabalho».
Estas jovens não sabem que políticas deve Manuel Baeta seguir por forma a suster a saída de munícipes qualificados. Sugerem apenas que a Câmara Municipal e até a Junta de Freguesia se empenhem na promoção de novos postos de trabalho, o que é uma tarefa «complicada», como ambas admitem.

Autarcas entendem dificuldades e enaltecem a cooperação com a autarquia

Juntas esperam boa relação com a Câmara da Calheta

O presidente da Junta de Freguesia da Ponta do Pargo, José Guilhermino Gouveia, antevê um bom relacionamento entre a sua Junta de Freguesia e a Câmara de Manuel Baeta.
«Espero que seja semelhante ao que tem sido nos últimos anos», disse, garantindo que entre os dois órgãos autárquicos sempre houve um bom entendimento.
Guilhermino Gouveia diz não ter «nenhuma queixa» a apontar ao executivo camarário e espera que neste próximo mandato continuem com a «mesma maneira de trabalho».
Quando ao que irá fazer na Junta, o autarca declarou que a sua aposta será na continuidade. «Vamos trabalhar da mesma maneira, ajudando as pessoas mais humildes e fazer o que se puder, em virtude das “verbazinhas” que se tem», disse.
«Não se pode pensar fazer obras grandes, porque não temos dinheiro. A Câmara e do Governo Regional assumem essas, enquanto a Junta de Freguesia fica responsável pelas micro obras.
«Comprometi-me com o povo de que iria trabalhar e que faria «o melhor que pudesse, dentro das possibilidades da Junta», recorda.
Neste sentido, assume como suas prioridades a ajuda às pessoas mais carenciadas da Ponta do Pargo, nomeadamente na recuperação das habitações degradadas.
«Há muitas pessoas que precisam ser ajudadas», referiu, adiantando ter conhecimento de 15 a 20 casos de habitações a carecer de recuperação mas admitindo que os pedidos de ajuda possam subir.
«Tenho um número de pessoas para ajudar, mas o apoio não será dado ao mesmo tempo. A Junta não se compromete a recuperar casas na totalidade, apenas pequenas ajudas, como um carro com material, areia ou um saco de cimento», esclarece.
José Guilhermino Gouveia também está preocupado com o problema do desemprego, apesar de não querer empolar a questão.
Ainda assim, diz que na Ponta do Pargo «já se começa a notar que as pessoas estão a ficar preocupadas», pois só têm o dinheiro do desemprego, o que é um «valor insuficiente para viver».
«Mas também o Governo não faz milagres, a Câmara não faz milagres», refere, sublinhando que a Junta igualmente se sente limitada. «Eu faço o possível para ajudar mas por vezes eu não tenho o remédio para os dramas que me relatam», reconhece.
Daí que deseje que o campo de golfe e a via expresso fiquem brevemente concluídos, pois acredita que estas obras trarão mais desenvolvimento à Ponta do Pargo.
Já no Arco da Calheta, uma das principais prioridades que o presidente da Junta de Freguesia elege para o mandato é a construção do novo centro de saúde.
O actual está instalado numas modestas instalações. «É uma casa antiga, com o mínimo de condições», elucida o autarca, explicando que o desejo das pessoas do Arco da Calheta é terem «um centro de raiz».
José Manuel Paulo considera que o actual tem um limite de vida de 8 a 10 anos.
«A ideia é lançar um centro de saúde de raiz e moderno», explica o presidente da Junta, que não sabe, contudo, em que ano ficará concluído, apenas que será durante este mandato.
José Manuel Paulo também não sabe onde será criado, se onde estão as actuais instalações, se noutra parte da freguesia.
«Não é a Junta de Freguesia que irá definir. O importante é que seja feito um centro de saúde moderno, com uma sala de espera, enfermarias, etc», clarificou.
Outra prioridade que assume é a criação de mais alguns acessos, o que aliás já está a acontecer.
«Acabou as eleições mas continuamos a trabalhar. Há pessoas de outras forças partidárias que acusavam a Câmara e as Juntas de iniciarem uma obra antes das eleições e depois pará-la assim que passava o escrutínio. Nada mais falso», disse o presidente da Junta do Arco da Calheta, esclarecendo que estão a decorrer, neste momento, os acessos no sítio dos Palheiros e no Loureto; obras que se iniciaram antes das eleições e que continuam agora.
Quando instado a pronunciar-se sobre o relacionamento que espera ter com a Câmara Municipal da Calheta, José Manuel Paulo refere que «o presidente da Câmara é um amigo não só do Arco da Calheta mas de todas as freguesias e o entendimento é óbvio, tanto da parte do presidente, como da restante vereação», garante.


Fonte: JM

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