domingo, 17 de maio de 2009

Desemprego preocupa na Ponta do Pargo


A falta de obras na construção civil, responsável por grande parte do emprego na freguesia, fez aumentar o desemprego e a aflição junto de muitas famílias.
Data: 17-05-2009

São cerca de 60 os quilómetros que separam a freguesia da Ponta do Pargo do principal centro urbano da Madeira, mas a distância não se contabiliza apenas no tempo percorrido na estrada. Ela acentua-se nas diferentes oportunidades de trabalho, nas dificuldades acrescidas pela ruralidade e, agora, pela crise que parece não poupar ninguém, mesmo aqueles que vivem nos locais mais recônditos.

João Jardim, de 44 anos, está há seis meses desempregado, o mesmo tempo que o amigo Alberto Ornelas, com apenas mais um ano de idade. A eles juntam-se Luís Gouveia, de 24, Gabriel Abreu, de 36, e António Rodrigues, de 45. Todos eles inscritos no Instituto de Emprego da Madeira, desde Dezembro passado, e trabalhadores da construção civil. Só da empresa para a qual trabalhava António Rodrigues ficaram sem emprego cerca de 30 pessoas.

Nas horas que antes eram ocupadas no trabalho, João Jardim e Alberto Ornelas trocam palavras com o dono do bar/mercearia da Malta, onde o filho, também desempregado da construção civil, aproveita para dar uma ajuda ao pai, na companhia da mulher, que está em vias de começar num novo emprego.

Com uma filha de três anos, este casal sobrevive com a ajuda dos familiares e com o apoio que ainda chega do subsídio de desemprego. Contudo, esta não é uma garantia para o futuro. Ana Silva, um ano mais nova do que o marido, Luís Gouveia, sublinha que a vaga que agora surgiu é para curta duração, sem grandes perspectivas ao nível de alguma estabilidade financeira. Já Luís Gouveia continua à espera que apareça trabalho, partilhando desabafos com os amigos que também se encontram desempregados. A alguns metros de distância, Gabriel Abreu e António Rodrigues aproveitam o tempo para dar uma ajuda na colheita da cenoura. A situação actual de desemprego preocupa, mas António Rodrigues teme, sobretudo, o futuro. O subsídio de desemprego não dura para sempre e a falta de obras na construção civil tem vindo a acentuar-se. É, por isso, que a construção do campo de golfe é aguardada com expectativa. Porém, é com algum desânimo que aqueles que vêem naquela infra-estrutura uma oportunidade de trabalho assistem ao atraso da obra, da responsabilidade da Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste.

Inicialmente prevista para o Verão de 2008, sabe-se, agora, que não deverá ficar concluída antes de 2010, mas não existem ainda movimentações no terreno para o seu início. Quem vive na Ponta do Pargo fala em falta de verbas para avançar com os trabalhos, a mesma razão que estará na origem do abrandamento do ritmo da construção da via-expresso, a qual aproximará a freguesia da sede de concelho e também de outros destinos e facilitará as deslocações para quem não quer abandonar a terra onde nasceu, mas precisa de encontrar novas oportunidades de trabalho para além dos seus 22 quilómetros quadrados.

No Bar da Malta fala-se nos pequenos roubos de animais domésticos e produtos da terra. Tudo por causa das dificuldades que atravessam algumas famílias. "Há muita pobreza envergonhada na Ponta do Pargo", sublinha o pai de Luís Gouveia, que distrai as horas vagas, da profissão de taxista e do bar, para montar pequenos sistemas movidos pela força do vento. Garante que se passam dias sem fazer um único serviço de táxi, cada vez mais reservado às situações de emergência. Noutros tempos, em que os autocarros eram menos frequentes, chegava a fazer dois a três deslocações por dia ao Funchal. Isso há mais de 10 anos.

Escola só para Pré e 1.º Ciclo

Apesar da sua ruralidade, a Ponta do Pargo possui algumas infra-estruturas de apoio à população. No Centro Cívico, o qual se destaca, pela sua arquitectura, dos traços tradicionais de grande parte das construções, funciona o centro de saúde, que dispõe de serviços de atendimento e de prestação de cuidados médicos. Num outro edifício contíguo, localizam-se as instalações da Junta de Freguesia, da Casa do Povo, do Centro de Dia e dos Serviços de Acção Social e Segurança Social e também dos CTT. Ao nível da Educação e Desporto, há a Associação Desportiva e Cultural e a Escola Básica de 1.ºCiclo com Pré-Escolar. Existem também dois bancos com duas caixas ATM.

Depois do 1.º ciclo, a continuidade dos estudos faz-se na Escola Raposeira, a qual recebe as crianças das localidades das redondezas, até ao 9.º ano. Depois, só na Calheta.

Já a polícia fica a 21 quilómetros de distância tanto para o lado da Calheta como do Porto Moniz. "Para ver a polícia só se alguém cair numa levada", afirma o dono do Bar da Malta.

Com 1.145 habitantes e 2.200 hectares de área, a freguesia da Ponta do Pargo fica a cerca de uma hora de carro do Funchal e quase 30 minutos da sede do concelho.

Segundo a informação veiculada pela página oficial da Câmara Municipal da Calheta, não é conhecido o ano preciso da sua criação, mas os historiadores apontam para que ela tenha sido anterior a 1560. A origem do nome é explicada por Gaspar Frutuoso nome e reporta-se a um acontecimento. Quando os descobridores andavam a desvendar a costa, no batel de Severo Afonso, chegados àquela zona, pescaram um peixe de grande dimensão, semelhante ao pargo. Passou, assim, a ser designada por Ponta do Pargo.

Além das festas religiosas, a freguesia tem como principal chamariz de forasteiros a Festa do Pêro.

Os dados estatísticos sobre as faixas etárias não são fáceis de encontrar, mas, mesmo sem o rigor dos números, não é difícil perceber que se trata de uma população envelhecida. Ana Silva sublinha que os jovens tentam procurar oportunidades nos centros mais urbanos ou no estrangeiro, em particular na Inglaterra.

A este propósito, é de reter um dado curioso trazido pelo Elucidário Madeirense na descrição da Ponta do Pargo. As referências históricas são complementadas com os Censos de 1911, que apontam para os 2.546 habitantes, ou seja, mais do dobro da população actual.

1.145
É o número de habitantes da freguesia da Ponta do Pargo, de acordo com os Censos de 2001. Curiosamente, menos de metade do que aqueles que eram assinalados nos Censos de 1911.
Fonte: DN

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