sábado, 3 de janeiro de 2009

OS TORMENTOS DO LINHO (2ª PARTE)

Dando continuidade a aqui daquilo começado no dia 30 de Outubro deixamos aqui a 2ª Parte da história dos Tormentos do Linho


A Ripagem

O linho é depois sujeito a uma operação que se chama ripagem com o objectivo de separar a baganha (película que envolve algumas sementes casulo do linho) do caule.
Seguidamente é posta a secar ao sol para serem extraídas as sementes. Com pancadas verticais, faz-se passar por entre os dentes do ripanço o topo das plantas. As cápsulas, bem fechadas e rijas, saltam para o chão.
As cápsulas são postas 4 a 5 dias ao sol, para amadurecerem e, desta forma saírem as sementes (linhaça), que serão guardadas num saco de pano e ao "fumo do lar", para o ano seguinte.


Curtimenta

" Depois do linho apanhado e ripado tem que ser enlagado".A curtimenta é uma das operações mais importantes. Os molhos do linho são colocados dentro de água estagnada ou corrente, por um certo período de tempo. É uma operação indispensável para se obter a separação dos elementos fibrosos dos lenhosos.
O período de tempo da curtimenta depende dos locais em que esta se realiza, variando, normalmente, entre 6 a 8 dias.
Efectuada a curtimenta, o linho é retirado da água e lavado para mover as sujidades que se acumulam. Em seguida é colocado a corar e a secar ao sol durante alguns dias. Depois de seco é atado em "maçadoiras" e levado para o seu destino.


A Maçagem

A preparação das fibras do linho para o uso têxtil consiste na separação das fibras lenhosas e das fibras têxteis. Esta operação é feita por processos diferentes conforme as regiões.
O instrumento usado neste trabalho é o maço.
Esta tarefa consiste em bater o linho com um maço de madeira para soltar as arestas, sobre uma pedra redonda.
Para tal é necessário que o linho esteja bem seco e estaladiço, por isso antes de ser maçado é exposto ao sol até ficar bem seco.
O dia de maçar o linho era quase de festa. Era escolhido um dia de sol, quente, se fosse de Leste seria melhor.
" Depois de estar maçado, faz-se uns molhinhos, arruma-se num monte, cobre-se com um cobertor e vai-se deitando água por cima durante uns dias, ou então pode ficar uma noite dentro do poço e no outro dia de manhã empilheira-se (colocar o linho amontoado) e espalha-se à noite. E se o tirar à noite fica empilheirado e só no dia seguinte é que é espalhado para enxugar".De novo o linho é amarrado em molhos pequenos, as denominadas mancheias ( com o diâmetro que caiba numa mão). Cada maçadoira deu origem a quatro mancheias. Como não pode ter qualquer humidade, antes de passar a outro tormento, o linho tem que secar muito bem. De novo a citação, para que este relato seja o mais fiel possível.


A Gramagem


Uma outra forma de maçagem do linho poderá ser por meio de grama ( que se processa após a maçagem do linho a maço). O linho antes de gramado tem que ser aquecido ao sol ou ao forno, não só por ser difícil trabalha-lo frio e mole, mas também porque dá mais desperdícios.
"Depois de ser cozido o pão, limpa-se as brasas e tapa-se o forno durante uma hora e meia.Mete-se, então o linho lá dentro. Quanto mais seco o linho ficar, melhor: fica mais áspero e descasca com mais facilidade. Tapa-se de novo o forno e vai-se tirando às mancheias, conforme for preciso para gramar". A gramadeira, cheia de pó do tempo e teias de aranha anuais, é um objecto que, aos olhos de qualquer pessoa, faz lembrar a faca de cortar bacalhau usada nas tradicionais mercearias. O que chamaríamos faca tem o nome de gramilha e tem a função de triturar as cascas do linho, as denominadas arestas. Neste sofrimento desprendem-se as primeiras fibras, as mais curtas e menos resistentes: os tomentos.


Tasquinhar

" Depois de gramar, vai a tasquinhar".A tasquinha tem por finalidade separar as fibras têxteis das palhas fragmentadas da parte lenhosa fracturada pelas operações da maçagem ou gramagem, e de outras fibras muito grosseiras. O instrumento usado nesta operação é a tasquinha (espadela).
Esta operação processa-se em cima de uma tábua de madeira e tem como objectivo retirar o resto das arestas que ainda estão ligadas às fibras que, aos poucos, se vão multiplicando em filamentos pelo ar, na cara e roupa daquela que não larga a mancheia, que agora passa a ter o nome de estriga (designação dada ao linho que, nesta fase, cabe numa mão). É esta que vai submeter-se ás fases seguintes: o sedar e o fiar.

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