quinta-feira, 30 de outubro de 2008

OS TORMENTOS DO LINHO (1ª PARTE)

O Ponta do Pargo News a partir de hoje irá apresentar semanalmente uma nova rubrica: OS TORMENTOS DO LINHO.

Esta rubrica baseia-se na publicação dos textos desenvolvidos nos anos 90 a 2000 por Jaime Helidoro Andrade.



Os Tormentos do Linho foi um trabalho desenvolvido pela Casa do Povo da Ponta do Pargo nos anos 90 a 2000.







1ª PARTE




O linho é uma planta herbácea, que atinge um metro de altura e pertence à família das lináceas. Compreende um certo número de sub espécies, associadas pelos botânicos sob o nome de Linum Usitatissimum. Compõe-se essencialmente de uma substância fibrosa da qual se extrai a fibra têxtil para a fabricação de tecidos e de uma substância lenhosa. É produtora de sementes oleaginosas e a sua farinha é utilizada para cataplasmas de papas de linhaça, usada para fins medicinais.



História




Não se conhece a data e o local em que o homem utilizou pela 1ª vez as fibras flexíveis do linho para confeccionar tecidos, nem quando a planta começou a ser cultivada. Os primeiros vestígios da sua utilização apareceram em habitações lacustres da Suiça que datam de há cerca de 800 anos. No Egipto foram encontrados vestígios da sua utilização em jazidas do Neolítico representados por fragmentos de tecido e por fusos, por volta de 500 a. c. Estes factos não só provam que o linho era já então cultivado e utilizado mas indicam, pela perfeição do seu fabrico, um longo desenvolvimento anterior. O linho vem também mencionado no Velho Testamento. As cortinas e o Véu do Tabernáculo e as Vestes de Arão como oficiante, eram em " linho fino retorcido".A túnica de Cristo era de linho sem costuras. A planta aparece, posteriormente, em certas regiões da Grécia Continental - onde o linho foi igualmente um dos mais importantes têxteis.No território que veio a ser Portugal, o cultivo do linho e a sua utilização têxtil provém, dos tempos pré-históricos. Em certas jazidas da província de Almeria que remontam a 2500 a. c. , encontraram cápsulas de linhaça, e numa "sepultura", coberta por mámoa, situada numa propriedade particular junto das Caldas de Monchique, no Algarve, considerada da 1.ª fase do bronze mediterrâneo peninsular, recolheu-se um pequeno farrapo de linho (2500 a. c.).




Do Cultivo à Tecelagem



É mais conhecido o provérbio "os tormentos do linho" para significar uma vida "dolorosa" e "custosa". Isto pode significar o quão moroso é o "tratamento do linho".




O Cultivo




De uma maneira geral pode dizer-se que a planta dá-se bem em quase todos os climas. No entanto prefere os terrenos silico-argilosos, de solo profundo, de consistência média, fresco e permeável à água. Como a duração do seu ciclo vegetativo é muito curto, a planta deve absorver rapidamente os elementos minerais: Os solos frescos e ricos são-lhe altamente convenientes e nos terrenos pobres, os processos de adubação devem ser cuidadosamente aplicados. Segundo a tradição, "deve-se semear o linho na primeira Sexta-feira de Março, para ele ser fervaço (ser grande e forte). Semeia-se na Lua Nova, pelo Entrudo, para ele ter muita febra (fibra).A linhaça (semente do linho) é guardada de um ano para o outro, ao fumo, pois assim "se conservam mais tempo e nascem melhor". Antigamente as pessoas andavam descalças. Como tal, sujeitavam-se muitas vezes a ferimentos nos pés. Numa panela deitavam as sementes num pano e deixavam ferver: Quando estavam cozidas, a água ficava viscosa. Para curar uma entrevação (chaga), espalhavam a linhaça sobre a nódoa negra do pé. A linhaça era utilizada também para fazer chá (era bom para os intestinos). Colocada a semente na terra, por tradição deve-se benzer. De seguida, começa-se a misturá-la com terra a adubo, utilizando uma enxada de "garfo".Era tradição fixar uma cana na terra, com cerca de 80 centímetros. Esta ficaria na terra, como medida de referencia, até que fosse feita a colheita do linho. O linho plantado nesta altura do ano dispensa a rega. Precisará apenas de ser mondado. Quando necessário, a rega é feita geralmente ao nascer e pôr do sol, no sistema de inundação encaminhada até ao campo através de uma rede de regos feitos na altura das sementeiras. Em Maio, as flores azuis e frágeis surgem, para dar lugar às cápsulas que albergam sementes para o futuro cultivo. "Entre São João e o São Pedro é a altura de apanhar o linho". A colheita das hastes deve ser feita um pouco antes de o fruto secar, a fim de que as fibras não fiquem ásperas; também não deve fazer-se cedo de mais para que não sejam demasiado fracas. A colheita é manual, arrancada pela raiz, a fim de se aproveitar todo o comprimento dos caules, formando-se em mancheias (pequenos molhos) com a parte da semente toda para o mesmo lado. Esta tarefa era acompanhada de cantares, que ainda hoje estão presentes na memória dos mais idosos.




Tenho o meu linho no lago



E o meu marido P'ra morrer.



Má vale o meu marido morra



Que o meu linho se perder.






Se o meu linho se perder



Eu não tenho que fiar.



Se o meu marido morrer,



Eu me volto a casar.
Continua na Próxima semana.

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