sábado, 4 de outubro de 2008

Mudança de padres não agrada


O Bispo do Funchal fez alterações no serviço pastoral da Diocese. Quer isto dizer que transferiu uns padres de paróquia, dispensou outros e encarregou ainda outros de novas responsabilidades. Acontece que estas mudanças, já divulgadas, estão a agitar o clero. Há padres descontentes e paroquianos a saírem da sacristia para questionar publicamente as opções de D. António Carrilho.

No meio de tudo isto, também há padres que lamentam o "comodismo" de certos colegas, quiçá com um 'lobby' suficientemente eficaz que lhes permite ficar nos lugares centrais, ao mesmo tempo que outros apanham sempre com a ruralidade e com várias paróquias em cima.

De facto, aquela que é a primeira grande mudança no movimento de sacerdotes desde que o novo Bispo entrou em funções não tem sido pacífica. As razões da "insatisfação" e do "desencanto" são variadas. Há padres que continuam sobrecarregados com várias paróquias, com a justificação oficial da falta de sacerdotes, e outros ocupados apenas com uma ou duas. Só para o Porto Santo, foram nomeados dois padres, decisão justificada pela dupla insularidade.

Sacerdotes há ainda que já prestavam auxílio a certos párocos, doentes e de idade avançada, e que são agora transferidos para outras paróquias, com surpresa das comunidades onde já serviam. Daí o protesto, nas 'Cartas do Leitor' do DIÁRIO, de um paroquiano identificado de Água de Pena, e do abaixo-assinado de mais de 500 pessoas da Vitória, em São Martinho (vide peça ao lado).

Também o pároco da Boa Nova, cansado e doente, espera ainda pelas novidades do Bispo, prometidas para os 50 anos da paróquia, a acontecer ainda este mês. Coincide com o seus 50 anos de sacerdócio. Gostaria que o Bispo lhe mandasse um padre para auxiliá-lo. Uma tarefa que poucos gostam já que um padre gosta sempre de ter a sua própria paróquia. Como espera uma resposta do superior hierárquico, Gabriel Sá diz-se "calado" até novas ordens.

As mudanças feitas em Setembro e já anunciadas têm leituras diversas. Para uma ala do clero, o Bispo do Funchal confrontou-se com um caminho já traçado pelo seu antecessor. Para outros, D. António Carrilho tem conquistado o clero pela simpatia e poder de diálogo, mas não parece ser Prelado de rupturas ou de mudanças radicais. Outros ainda atribuem à falta de padres a razão fundamental que pesa na distribuição do serviço pastoral, além de que todas as mudanças geram sempre alguns descontentamentos.

"Comodismo" de alguns

A Calheta foi o arciprestado com grandes mudanças. Há muito que o padre Paulo Catanho vem fazendo notar ao Bispo que precisa de ajuda. Tem cinco paróquias a seu cargo: Ponta do Pargo, Amparo, Raposeira, Fajã da Ovelha e Paul do Mar. Não tem tempo para férias e faz uma 'maratona' aos fins-de-semana para alternar a celebração da liturgia nas paróquias. O colega dos Prazeres também tem três paróquias. O Bispo pediu-lhe "mais um ano de sacrifício" até encontrar uma solução. O também ex-secretário do anterior Bispo aceitou. Nota que D. António Carrilho difere do seu antecessor pelo facto de dialogar com o clero sobre as mudanças antes de consumar decisões. No entanto, há resistências e comodismos. "Julgo que o senhor Bispo foi confrontado com uma realidade que talvez não pensava encontrar. Na prática, viu pouca disponibilidade de certos padres que não querem ter muito trabalho até porque já estão acomodados às suas paróquias", afirma o jovem pároco da Ponta do Pargo. Paroquianos queixam-se Um recanto longínquo da Madeira onde cresce o desemprego e em contrapartida aumenta o trabalho precário na construção de túneis, onde faltam algumas estradas agrícolas e sentido de solidariedade e de partilha da própria comunidade.

Na Lombada dos Cedros, freguesia da Fajã da Ovelha, o padre Paulo Catanho é amparado pela população. "A gente quase que não o vê na Raposeira. Ele não pode 'vencer' tanto serviço e a gente também precisa de tratar dos nossos assuntos e alguns deles não podem esperar. O senhor Bispo já tinha tempo de resolver este problema." O Reis, proprietário da mercearia com o mesmo nome, é da mesma opinião. "É um bom pároco mas é muito trabalho para ele", afirma, defendendo ainda "as estradas agrícolas que estão por construir e que já foram faladas há mais de dez anos." Como na Ponta do Pargo, há outras paróquias cujos padres estão sobrecarregados de trabalho.
Fonte: Diário de Notícias

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