sábado, 30 de agosto de 2008

O Santo António na Ponta do Pargo

Como é do conhecimento de todos, o Santo António é festejado a 13 de Junho de cada ano. No concelho da Calheta é celebrado na Paróquia da Raposeira (13 de Junho) e na Paróquia da Ponta do Pargo (primeiro fim-de-semana de Setembro). Apesar de não ser padroeiro da freguesia, é uma grande festividade.
Agora é que surge a dúvida: Porquê é celebrado no primeiro fim-de-semana de Setembro?
Inicialmente era comemorado no último fim-de-semana de Agosto, contudo aquando da chegada do padre Manuel Câmara à freguesia, esta data foi alterada para o primeiro fim-de-semana de Setembro. Pensa-se que esta mudança deve-se ao facto de que no fim de semana de Setembro se realize a famosa Festa da Ponta Delgada, sendo a Ponta do Pargo um ponto de passagem dos “romeiros” onde estes poderiam adquirir os produtos que estavam a ser leiloados nos diversos bazares construídos pela comissão eleita por cada sítio da freguesia.
Esta festividade é comemorada em Setembro porque é nesta altura que as pessoas têm as seus rebentos da terra, os quais que durante da festividade são oferecidos ao padre ou leiloados no adro da igreja.
É nesta festividade que surgem os tabuleiros, as romagens de cada sítio, os regentes e os bazares de cada sítio.
Os tabuleiros são enfeitados a pormenor por uma pessoa escolhida pela família dos regentes, normalmente é constituída pela seguinte maneira: até ao topo da base de madeira é coberta de trigo, antigamente era coberto de ovos de galinha por cima do trigo, actualmente assiste-se a uma mudança de cobertura dos ovos por frutos e garrafas de whisky ou licores tradicionais, por cima do trigo são elaborados dois arcos de arame com um ramo de flores, um cartucho de cartolina com a figura de Santo António e os arcos de arame são cobertos de notas de dinheiro verdadeiro. Estes tabuleiros são transportados de cada sítio numa espécie de procissão dos tabuleiros, romagem para os bazares construídos no adro da igreja para armazenar e leiloar os produtos oferecidos. De referir que os tabuleiros eram transportados à cabeça por pessoas (normalmente mulheres) escolhidas pelas famílias dos regentes.
Geralmente as romagens são acompanhados pelos tocadores de vários instrumentos (acordeão, rajão, viola, bombo etc…), por populares que transportam os seus produtos de oferta ao pároco e para leiloar, pela banda municipal, e claro pelos regentes. Estas romagens acontecem no Sábado após da hora de almoço. Antigamente a Banda Municipal entoava o hino ou outra música no adro da igreja, logo de seguida almoçava com o pároco da freguesia, e depois seguia para o sítio do cabo (de onde partia a primeira romagem). Actualmente não se verifica isto, pois participam apenas três a quatro sítios, e a tocata é apenas do Salão de Cima e Salão de Baixo.
Os regentes eram jovens solteiros que residiam nos diversos sítios de cada sítio e eram eleitos na Festa de Santo António do ano anterior, normalmente são eleitos dois por cada sítio (um rapaz e uma rapariga, normalmente).
Nos dias que antecedem a festividade vive-se uma grande azáfama por parte dos regentes, familiares e colaboradores das famílias, para que corra tudo bem para o “fim-de-semana de Santo António”.
No adro da Igreja surgem os bazares. Estes bazares têm como funções o armazenamento dos tabuleiros e dos produtos que irão ser leiloados no próprio dia e no dia seguinte. É criado um para cada sítio que participa na Festa de Santo António, nos últimos anos temos vindo a assistir uma diminuição de bazares devido à escassez de regentes e também pelo aumento do custo de vida.
No Domingo realiza-se à procissão em honra de Santo António onde participam os familiares e os regentes.


Recolha e texto de: João Evangelista da Silva Pita


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