segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Emanuel Pombo abraça BTT a tempo inteiro



Emanuel Pombo prepara-se para entrar numa nova etapa da sua carreira no BTT. Liberto dos afazeres da licenciatura em Turismo, na Universidade de Trás-os-Montes, vai dedicar-se a tempo inteiro à modalidade. Não que os estudos tivessem interferido com a prática. “Consegui conciliar as duas coisas durante estes três anos. Fiz o circuito nacional na mesma. O curso não me afectou em nada”. Mas a disponibilidade é agora maior e pode focar a sua atenção no circuito mundial, em 2011. “Posso tirar mais horas para treinar e vou ter mais algum apoio”.
Enquanto esteve a estudar treinava em Trás-os-Montes, em condições não tão boas como na Madeira, e deslocava-se pelo país para as provas do circuito nacional. “Estar a viver no continente tinha a vantagem de facilitar o transporte. Estar a montar e desmontar a bicicleta quinze vezes por ano por causa das viagens de avião torna-se cansativo”. Agora, na Madeira, treina sobretudo na Ponta do Pargo, onde mora. A preparação inclui bicicleta de estrada, ginásio, natação e a parte técnica.
Emanuel Pombo aguarda pelo começo da temporada para ir atrás dos objectivos que estabeleceu. “Quero ser campeão nacional de Downh-Hill e vencer a Taça de Portugal”, revela para o plano nacional. Internacionalmente, as suas metas já estão traçadas, como aponta. “Quero arrecadar uma medalha nos campeonatos da Europa, em Agosto, deste ano, na Suíça, e ficar entre os 20 melhores do circuito mundial”. O que significa melhorar em quinze posições, o seu melhor registo (35.º lugar) até ao momento. 

Mais tempo e mais profissionalismo

As perspectivas de lá chegar são muito razoáveis. “Se consegui chegar perto dos 30 primeiros enquanto estava a tirar o curso, agora com mais tempo e mais profissionalismo tenho a certeza absoluta disso”. 
Para a participação no circuito mundial, Emanuel Pombo tem sete provas da Taça do Mundo e o campeonato do Mundo. Desde a Europa, aos Estados Unidos e Canadá e África do Sul. A competição exige muitas viagens e outro tanto investimento. Que vem de apoios privados, sobretudo da Liberty Seguros e Specialized, que cobre “basicamente” as despesas. Não teve (tem) subvenção do IDRAM por não ter representado nenhum clube da Madeira nos últimos três anos. 

1º português a ganhar Maxis Cup

Voltou agora ao Ciclomadeira mas a sua presença em provas regionais dependerá da agenda nacional e internacional. “Se fizer, será uma ou duas provas”. Fora da Madeira nos últimos três anos, notou no regresso um crescimento da modalidade. “Há muitos mais praticantes. Mas houve um problema no ano passado: organizaram-se poucas provas”. Recentemente foi o primeiro português a vencer o Troféu Maxis Cup em Gouveia.
No palmarés de Emanuel Pombo contam-se cinco títulos nacionais: um em cadetes, dois em juniores e elites. “Fui campeão em todos os escalões”. A nível internacional tem um 14º lugar no campeonato do Mundo de juniores em 2004 (França) e 2005 (Itália).

Vértebra partida no pior acidente

O BTT implica alguns riscos, face à velocidade que os atletas atingem em descidas com inclinações acentuadas. “Às vezes é preciso desligar o botão”, refere. Não que sinta medo mas porque enfrenta hoje a competição de modo diferente. “Pondero bastante e não faço as coisas tão inconscientemente como antes, quando era mais novo. Tenho de ter cuidado com as lesões que afectam os meus resultados e a angariação de apoios”. O pior da modalidade são as lesões e, em 2010, passou por uma dessas experiências devido a um acidente aparatoso em Itália, na Taça do Mundo. “Foi a minha pior lesão de sempre. Parti a vértebra D3. Era para estar parado cinco meses e meio, mas devido ao bom acompanhamento médico, parei durante quatro meses e meio”. 
Durante dois desses meses teve de usar um colete no corpo para evitar dobrar a coluna e recuperar de forma mais célere. Admite que uma boa dose sangue-frio e coragem são requeridas a quem pratica o BTT.

Calendário: Emanuel Pombo já se começou a preparar para a temporada de 2010 embora a Taça do Mundo só se inicie em Abril, com uma etapa na África do Sul. No plano nacional, a primeira prova é a 5 e 6 de Março, em São Brás de Alportel. 

Licenciatura: Formado em Turismo pela Universidade de Trás-os-Montes, o madeirense não tem planos imediatos para enveredar por uma carreira profissional nesta área. O BTT é a prioridade da sua vida por agora, já que pretende dedicar-se por completo à modalidade. 

Pistas preferidas: “A minha pista preferida é Champery, na Suíça, porque é um das mais inclinadas que existem no Down-Hill. Também gosto de Maribor, na Eslovénia. Em Portugal, a Madeira é o melhor sítio para praticar o BTT: há muitos declives e os percursos são longos e duros”.

Preparação: “Tenho sempre o cuidado de fazer o reconhecimento a pé das pistas em que vou competir, um dia antes de começar os treinos, de molde a verificar bem os detalhes da pista para que possa ter o melhor rendimento na prova. Na Madeira, treino preferencialmente na Ponta do Pargo. A minha preparação inclui bicicleta de estrada, ginásio, natação e a parte técnica”.

Apoios: São exclusivamente de privados e asseguram quase na íntegra as muitas despesas de uma temporada. Não recebe subvenção do IDRAM por não ter representado nenhum clube madeirense nos últimos anos, período em que esteve a estudar no continente.

Sangue-frio: É uma das características subjacentes a um praticante de BTT. E muito espírito aventureiro. As velocidades são por vezes vertiginosas em pisos irregulares e perigosos. “Temos de desligar o botão em certos momentos” diz Emanuel Pombo que teme sobretudo as lesões. Estragam a época em termos de resultados com consequências na obtenção de patrocínios.

BTT a crescer: Emanuel Pombo esteve três anos no continente e no regresso à Madeira nota um crescimento da modalidade. O único senão que aponta é as poucas provas realizadas no ano passado. Da sua parte, a participação nas competições regionais está condicionada à sua agenda, nacional e internacional. “Se participar, será em uma ou duas provas. Depende de conseguir ou não conciliar com as minhas provas fora da Madeira”.

30 mil euros de orçamento só para material

Emanuel Pombo não tem planos para dar, para já, seguimento à Licenciatura em Turismo. A sua ideia é dedicar-se por completo ao BTT, mesmo que esta seja uma modalidade cara. “Para quem praticar fica mais dispendioso em relação a outros desportos”.Os valores que adianta confirmam a afirmação: uma bicicleta de alta competição não fica por menos de 5.000 euros e um atleta deste nível tem mais que uma no seu material. Para além disso, há que levar em linha de conta os variados gastos com a manutenção das “bikes”, com a aquisição ou reparação das peças que se avariam e cuja substituição chega facilmente às centenas de euros. Por esta razão, e para quem se pretende dedicar a “full-time” à modalidade, reunir um conjunto de patrocínios é uma condição fundamental. Isto porque só para o material o orçamento para uma temporada pode atingir os 30.000 euros. A estas despesas juntam-se as deslocações a oito provas do circuito mundial. Três delas fora da Europa, África do Sul, Estados Unidos e Canadá, que acarretam mais dinheiro gasto em passagens, estadias e alimentação. Emanuel Pombo viaja com o irmão (Daniel) que é praticante de BTT e seu mecânico ao mesmo tempo.
Para este ano, tem as despesas praticamente cobertas com os patrocínios já angariados. Como tem a intenção de fazer do BTT o seu modo de vida tem de conseguir reunir também algum dinheiro para o dia-a-dia. Mas lembra outra compensação para além do aspecto monetário. “Em todos estes anos já estive em muitos lugares que seria quase impossível conhecer de outra forma”. Em Março viaja para a Àfrica do Sul no início do circuito mundial que é a deslocação mais onerosa do seu calendário. Lá mais para a frente, atravessará o Atlântico para duas provas: Estados Unidos e Canadá. Depois é o regresso à Europa para dar seguimento a uma época que se prevê muito trabalhosa mas em que os objectivos são ambiciosos neste regresso a toda velocidade do madeirense aos palcos nacionais e internacionais.


Fonte: Jornal da Madeira

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