domingo, 3 de maio de 2009

CONCORDA???? "Blogues e precaridade juntam-se às pressões políticas"


Os blogues e a instabilidade laboral no sector da comunicação social juntam-se às já conhecidas pressões políticas como factores que mais condicionam a liberdade de imprensa neste momento na Madeira. Os jornalistas, sobre quem recai a responsabilidade de assegurar uma informação livre, temem que o medo de perder o emprego possa prejudicar o trabalho que, há anos, sobrevive às pressões dos políticos. E, nesta equação, há ainda um novo dado: a blogoesfera, um espaço de total liberdade, que se permite tecer todos os comentários, mas não admite réplica.

"Julgo que os jornalistas madeirenses serão capazes de resistir as estas ameaças, acho que estão imunes. Afinal, têm 30 anos de experiência". Irónico, Leonel Freitas, director dos centros regionais da RDP e RTP, é o primeiro a admitir que há pressões políticas sobre os jornalistas. "São públicas, os políticos dizem nos discursos, nos artigos de opinião". No alinhamento do telejornal, por exemplo, o partido da maioria quer tanto espaço como o que tem na Assembleia Legislativa. "Só que os critérios jornalísticos não obedecem ao regimento do Parlamento".

Se o partido do poder reclama, a oposição também exige, quer destaque e atenção, exige a presença nas iniciativas que tem. No entanto, os pedidos de cópias de programas para fins judiciais são para formatos de opinião. Os mais recentes pedidos foram para duas edições diferentes do 'Dossier de Imprensa'. "Curiosamente, um programa de opinião de jornalistas". O director da televisão e da rádio públicas ainda não foi convocado para tribunal, mas admite que os processos judiciais podem ser uma forma de pressionar a actividade dos jornalistas.

Sintomático de que, na Madeira, se convive mal com as opiniões diferentes é o sarilho diário que dá o pequeno espaço de opinião da Antena 1, o "Antes da Ordem do Dia'. Leonel Freitas explica que o partido maioritário não gosta, "o que se diz não o que querem ouvir". No entanto, resumir as responsabilidades das pressões ao poder não é certo, nem justo. O director da televisão já foi a tribunal por causa de programas de 'Desporto', mas se Leonel Freitas fala muito das pressões políticas e partidárias, também admite que está a ganhar peso outra forma de pressão: os blogues. "Nesse espaço de toda a liberdade, há comentários ao trabalho dos jornalistas, lançam-se suspeitas à sua dignidade e honra sem qualquer possibilidade de réplica. As reacções são censuradas por quem escreve e administra o blogue".

Mário Gouveia, jornalista da TVI na Madeira, partilha esta opinião, os blogues são uma nova forma de pressão, uma ameaça - às vezes sem rosto - ao trabalho dos jornalistas. "É infernal, criticam, comentam e tecem considerações ao nosso trabalho e não podemos dar resposta. Não é a mesma coisa do que ir na rua e ouvir uma 'boca'. Aí podemos reagir, isto é um inferno, o comentário fica e pode ser lido por milhões de pessoas, mesmo que seja uma difamação".

De sentido prático, o jornalista da TVI entende que os blogues moem, mas não matam e o verdadeiro perigo à liberdade de imprensa está no medo de perder o emprego. O momento é de instabilidade nos órgãos de comunicação social, há notícias de despedimentos e, perante este cenário, Mário Gouveia acredita que muitos podem fazer auto-censura com receio de perder o emprego. "É certo que há pressões do poder, cá e em Lisboa, como se viu recentemente com a TVI e o primeiro-ministro, mas eu acho que a auto-censura é a verdadeira ameaça, quando o jornalista com medo de perder o emprego ou precavendo-se para o futuro corte o que incomoda das notícias".

Não é o único a partilhar esta opinião. Gil Rosa, chefe de redacção da RDP-Madeira, sente que é pelo emprego, pelo salário ao fim do mês que a liberdade de imprensa corre riscos. "O jornalista também tem família, é humano que pense duas vezes antes de dar uma notícia que incomoda. Em última análise, a liberdade de imprensa depende dos jornalistas, se são sérios, se são dignos e encaram a profissão com rigor". De resto, qualquer jornalista deve encarar as pressões como parte do ofício e resistir. Gil Rosa garante que as ameaças nunca tiveram efeito no trabalho, Mário Gouveia acrescenta que as pressões têm o condão de irritar, aguçam a curiosidade do jornalista.

Opinião: A liberdade de imprensa é respeitada?

Mário gouveia, jornalista da tvi
"O que mais me preocupa, muito mais do que as pressões do poder, é a auto-censura que os jornalistas possam fazer com medo de perder o emprego".

Gil Rosa, chefe de redacção da RDP-M
"A principal ameaça à liberdade de imprensa é a crise. Sem estabilidade laboral o trabalho dos jornalistas - que também têm família - está mais condicionado".

Márcio Berenguer, jornalista do Diário
"Quando o presidente do Governo e os deputados têm um discurso agressivo para os media, os cidadãos acabam por achar natural ameaçar e agredir jornalistas".

Fonte: DN

Sem comentários: