sábado, 13 de setembro de 2008

Festa é do pêro, lucro é dos outros


A Festa do Pêro, na freguesia da Ponta do Pargo, que decorre de 20 e 21 de Setembro, serve basicamente para os agricultores aproveitarem o momento e comercializar também outros produtos agrícolas. O ano até foi bom para colheita, no entanto, são cada vez menos os que se atrevem a se inscrever no certame para vender pêros, principalmente os mais jovens.

Talvez por isso, Rosário Gouveia, presidente da Casa do Povo, não deixou passar a oportunidade para enviar o recado na reunião preparatória com os agricultores. "Guardem os pêros para a festa e não vendem tudo para os Prazeres". A mensagem além de ser dirigida aos agricultores vai directa à Quinta Pedagógica dos Prazeres que também efectua neste mês a festa da sidra.

Sem querer pretender entrar em polémica, a presidente retira qualquer ponta de crítica nas palavras, adiantando que "é apenas uma constatação", explicando sucintamente então o porquê das declarações: "É natural que as pessoas levem os seus pêros em conjunto para os Prazeres e façam o seu negócio".

A opinião generalizada dos agricultores que se deslocaram à Casa do Povo na passada terça-feira para se inteirarem do programa e ainda escolher as respectivas barracas onde vão colocar os seus produtos é que dificilmente vender pêro compensa.

É a crise a falar mais alto, diz quem vive do sector, levando que cada um procure outras fontes de rendimento neste dois dias de festa programados pela Casa do Povo em parceria com a Secretaria do Ambiente e dos Recursos Naturais.

"Há cada vez menos pessoas a tratar dos pereiros", diz Jorge Martins, um agricultor local que faz questão de participar no cortejo com o seu tractor, mas declina entrar no certame para vender pêros. "Não dá para a despesa", assegura.

O sentimento é quase comum e são poucos os que vão levar pêros à festa que lhe deu nome há 24 anos. Ainda assim, os que levam o fruto característico da localidade dá para assegurar uma quantidade razoável para comercialização.

Pêro com muita hortaliça

Hoje, os que vivem da agricultura aproveitam para vender, batata, semilha, feijão, maçaroca e até tabaibos. Estes são os bens de Gorete Helena, uma habitante da freguesia da Fajã da Ovelha que participa há 17 edições consecutivamente e das poucas que ainda arrisca levar pêros e maçãs ao evento. Maria Pereira Caires, por exemplo, deixou o sector. Vai arriscar entrar pela primeira vez para tentar vender os 60 cestos de manufacturados em tela e linho. "Os produtos da terra já não dão grande coisa. Vou tentar vender uns cestinhos a 20 euros", adianta com esperança na obtenção de uma boa receita.

Rosário Gouveia adiantou ao DIÁRIO que a edição terá 21 barracas montadas longitudinalmente na estrada próximo da praça do Centro Cívico. A praça inaugurada há dois anos para acolher comemorações servirá para expor utensílios seculares tradicionais da tapeçaria e da agricultura. Haverá ainda uma debulha de trigo ao vivo.

Um dos segredos da festa do pêro passa pela imaginação de conseguir ano após ano atrair populares ao certame. Ao todo a organização reservou a participação de seis grupos de folclore, três grupos instrumentais e um conjunto de ritmos modernos.

No domingo, pelas 15 horas, sai o cortejo alegórico à rua, sendo este o prato forte do dia e aguardado sempre com grande expectativa. Estão inscritos cerca de 30 agricultores que assim vão mostrar os seus tractores e algumas das melhores colheitas do ano. Neste desfile participam igualmente muitos agricultores trajados com vestimenta típica.


Fonte: Diário de Notícias

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