quarta-feira, 14 de novembro de 2007

TERRENOS AGRÍCOLAS À SECA

Os agricultores da Ponta do Pargo estão apreensivos e ao mesmo tempo revoltados com a seca que atinge as suas culturas. A anormalidade de Novembro ser um mês sem chuva numa localidade onde até chovia com alguma intensidade nesta época, não serve de desculpa, para que as culturas não estejam a ser regadas quando efectivamente até existe água nos poços construídos pelo Governo Regional. Convidado pelos próprios agricultores a deslocarmo-nos ao local onde os poços estão erguidos, o DIÁRIO constatou que o poço situado no sítio da Corujeira sofre grandes danos na sua estrutura e, por esse motivo, não poderá atingir a sua capacidade máxima. O outro, situado no sítio do Pedregal, recentemente construído, estava completamente cheio. Ermelinda Faria, agricultora tal como o seu marido e ainda outros agricultores das redondezas não compreendem o facto das suas culturas estarem a perder-se nos terrenos se até existe água para regar. "Já nos disseram para pedir água aos vizinhos que têm poços privados, mas se não chove como iremos fazer para encher os tanques", questionam. Mais. Não entendem que se pagam para ter água todo o ano, porque razão a mesma só entra em giro na altura da Primavera e Verão. "Eu pago 50 euros por ano para regar, mas veja só como está as minhas semilhas", aponta Ermelinda Faria com o dedo indicador para o local. Antes, havíamos passado pelo poio de milho completamente amarelado pela seca. "Nem serviu para alimentar os animais", lamenta. Ali, mesmo ao lado do poio de semilhas, está outro que plantou com pimentão e outro com favas que nem sequer chegou a nascer. "Tire uma fotografia a isto. Veja, só como ficou, tudo porque não teve água", critica. Esta preocupação também é comungada pelo casal Pereira. João Humberto diz que meter a enxada na terra é como bater no alcatrão. "Está tudo seco", assegura e acrescenta logo de imediato: "se não levar água perde-se", olhando para a plantação de batata. Alimentar os animais é coisa que também não está fácil. "Mandaram-nos retirar o gado da serra, agora que está cá em baixo não conseguimos alimenta-lo", sublinham com tristeza. A questão agrava-se quando a perda das culturas "mexe nos bolsos" de cada um, remetendo para o campo da economia familiar. "Investimos, perdemos o nosso tempo e no final nem conseguimos retirar nem um tostão", lamentam.

O que diz a junta

João Guilhermino, presidente da Junta de Freguesia e também agricultor, depois de ter contactado o levadeiro chefe da zona teceu o seguinte comentário: "sugeri que o levadeiro fosse ao sítio perguntar quem queria regar. A resposta que recebeu foi que ninguém estava interessado". Contudo, após alguma insistência quanto à explicação dos campos estarem secos o autarca adiantou: "eu próprio vou inteirar-me se alguém anda aqui de má-fé, dizendo que as culturas estão secas tendo à sua disposição água ou se de facto os próprios levadeiros não passam por lá". A terminar, Guilhermino sublinhou que "não se pode andar a gastar água à toa, mandando pela levada abaixo sem que ninguém aproveite, para mais temos vindo a ser assolados por incêndios. O sistema está assim definido: quem quer pede ao levadeiro e escusamos de desperdiçar".
Fonte: Vitor Hugo (Diário da Calheta)

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